A vida me ensinou: O Temor


Devemos caminhar na direção do nosso maior temor.
Ali está nossa única esperança.
Hermann Hesse

Minha pré-adolescência e adolescência foi muito conturbada como de qualquer pessoa. Tinha problemas de autoaceitação. Acho que a palavra é esta mesmo. Olhava-me no espelho e não gostava do que via. Minhas amigas sempre eram mais bonitas do que eu.

Meu cabelo era ruim, meu nariz era grande e apontado pra baixo, minha boca era torta (por conta de uma queda de cara num espécie de ponte com a madeira lisa), minhas pernas eram finas. E é até hoje.

Eu alimentava dentro de mim um ser indignado por ter nascido tão mal feito na frente das minhas amigas de escola, que além de serem bonitas aos meus olhos, tinham grana.

Sim, ainda tinha isso. Sempre estudei nas melhores escolas. Minha mãe ralava muito pra me dar a melhor educação. Mas eu era classe média. Levava o lanche pra escolha (suco e pão com ovo), enquanto as colegas da escola levaram dinheiro e compravam mixto e refrigerante no recreio. Enfim, prato cheio pra me tornar uma pessoa inconformada e invejosa. Ah! E eu sofria bullying.

Bem, hoje olhando tudo isso, chego a conclusão de que muito do que eu fiz de ruim na vida era por causa do meu auto-reflexo. Fui péssima amiga. Era mentirosa, falsa, traidora. Sentia inveja das amigas, queria o que elas tinham, dava em cima dos namorados delas, inventava estórias para fugir da minha realidade. Não vou entrar em detalhes das canalhices que fiz porque isso não vem ao caso. Mas acredito que você pode imaginar.

E onde é que o temor entra? Quando foi que eu aprendi a temer? Bem, a vida devolve tudo o que você faz. Lei da colheita. Aqui se faz, aqui se paga. Sofri muito por causa dos meus atos. Paguei, moeda por moeda, tudo o que eu fiz pras pessoas. Foram muitas humilhações, muitas.

E lá dentro da minha cabeça, eu entendia, ainda que não muito consciente, que era a vida cobrando a conta. Porque ela cobra e nunca foi na mesma medida.
Depois de cair e levantar tantas vezes, aprendi a temer. Temer não é o mesmo que ter medo. É, pra mim, quase que uma empatia. Todas as vezes que uma situação se desenhava na minha frente e que, claramente, poderia ferir alguém, eu parava alguns instantes e começava a imaginar o que aconteceria se eu resolvesse entrar na dança. Daí, minha memória me levava até àquelas lembranças dolorosas de amigas que sofreram uma frustração por minha causa. E quase como um desespero, eu corria na direção contrária à situação a minha frente.

E é assim até hoje. Se vou no supermercado e me dão o troco errado, por exemplo, eu devolvo. Não para parecer a íntegra de Manaus. Não. Devolvo porque eu sei o que pode acontecer se eu tirar proveito disso. Sei qual será o retorno. Já me pagaram cachê a mais por engano. E eu sabia que a pessoa não ia nem perceber se eu ficasse. Mas, suando frio (rsrs), eu devolvia, porque eu conheço a lei do retorno.

Outro exemplo: homem casado atraente que dava em cima de mim. Sabe aqueles que te fazem perder o ar? Pois é. Com muita dificuldade, eu corria desses. Porque eu sei, saca? Desse buraco eu já saí. Isso é temor.

Então, gente, com isso, com esse relato, quero pedir a vocês o seguinte: cuidado! Pensem nas consequências. Sei que a idade interfere muito nas nossas decisões. A gente é tomada por um ímpeto, uma intensidade tão grande que na nossa cabeça ou a gente faz ou a gente morre. Mas somos racionais também. Cuidado com a estrada que você está construindo. É você quem vai andar nela.

Pessoas inteligentes aprendem errando. Pessoas sábias aprendem com os erros dos outros.

Que tipo de pessoa você é?

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